A filósofa Judith Butler

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS



Rosana Leite Antunes de Barros

A filósofa pós-estruturalista nasceu em Cleveland, no dia 24 de fevereiro de 1956. É escritora e professora, com obras publicadas sobre feminismo, política e ética. Ocupa o cargo de professora do departamento de retórica e literatura comparada da Universidade da Califórnia de Berkeley. E, desde o ano de 2006, está no posto honorífico intitulado “Hannah Arendt” na European Graduate School.

Butler é conhecida e com teses estudadas, por ter impingido “novos ares” ao estudo de gênero. Inclusive, é dela a ideia da teoria da performatividade, englobando o somatório de repetições de comportamentos socialmente vistos e aplicados ao longo da história. Sustenta que o gênero sempre foi construído por meio de expressão corporal e com discursos triviais, que definem e sustentam as identidades. Diz: “Seja qual for a liberdade pela qual lutamos, deve ser uma liberdade baseada na igualdade”.

A filósofa afirmou em “Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade”, um de seus livros mais lidos, que as suas indagações surgiram em razão das muitas punições advindas da criação judia, por tudo que ouvia do rabino e da comunidade. Com sabedoria, eternizou: “Eu também não acredito que a literatura possa nos ensinar a viver, mas as pessoas que têm dúvidas sobre como viver tendem a recorrer à literatura.”

As visões políticas de Butler são libertárias, feministas, antissionista, antirracistas e anti-lgbtfóbicas, tendo na produção acadêmica se encontrado para que esses temas ganhassem repercussão em livros e palestras mundo afora difundidos.

O viés pós-estruturalista da escritora é pensado em trazer uma linguagem para o encontro com a justiça social, a fim de conseguir sentir o efeito da mudança de conceito. Judith Butler questiona as formas de dominação da sociedade, e a existência de “verdades” conhecidas e ditas como absolutas, no que diz respeito a gênero e sexualidades. Ela nos propõe a refletir e resistir a práticas ditas como permanentes, questionando respectivos sentidos. Sobre o tema, afirmou: “Existe uma maneira de categorizar os corpos? O que as categorias nos dizem? As categorias nos dizem mais sobre a necessidade de categorizar os corpos do que sobre os próprios corpos.”

A escritora cita e defende o feminismo em seu sentido mais amplo possível, não somente em defesa das mulheres e do feminino, mas, sim, por conta da identidade de gênero, tema tão discutido e questionado. Butler questiona, em tom de provocação, quem são os sujeitos do feminismo. Pensa em “voz alta”: “O que é uma mulher?”; “O que a faz ser mulher”. Assim, ela apresenta o sentimento de alguns corpos excludentes. Fala com proficiência da politização dos corpos, que muitas vezes são medidos e identificados pelas genitais.

As variadas singularidades são observadas pela estudiosa Judith Butler, em cenário onde a bipolaridade é vislumbrada. Pessoas existem e podem não se encaixar no binarismo rotulado socialmente, mas, existem concretamente. Para ela, o sexo não é característica ou atributo de alguém, sendo essa uma diferença binária, ou seja, uma construção. Logo, para ela, ser sexuado é estar em submissão a um conjunto de regras sociais, criadas e correlacionadas entre sexo, gênero, prazeres e desejo.

Butler deixa sinalizado o caráter construído, ou a ser construído, de todas as identidades. Nada é estável e permanente, quando se tratam de pessoas, de seres humanos. Para ela é preciso demolir hierarquias baseadas em sexo e gênero. Afirmou: “Gênero não é cultivar o que o sexo é para a natureza; gênero é também o meio discursivo/cultural através do qual a natureza sexuada ou um sexo natural é formado e estabelecido como pré-discursivo, antes da cultura, uma superfície politicamente neutra na qual a cultura age.”      

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT.

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