Comentários ensinam/ Gabriel Novis Neves

Opinião



Redação 

Os comentários que recebo sobre minhas crônicas são extremamente didáticos e ajudam-me a aprimorar a escrita e a refletir sobre o que expresso.

 

A língua portuguesa é difícil de ser escrita corretamente — e também de ser interpretada.

 

Com os anos de dedicação à escrita, confirmo essa afirmação.

 

Certa ocasião escrevi criticando o número excessivo de exames complementares que os médicos de hoje costumam solicitar, especialmente para os mais velhos. A cada ano, os pedidos aumentam.

 

O pobre do paciente, então, passa até um mês cumprindo essa maratona de consultas e exames.

 

Escrevi: ‘Peço ao tempo que voe, para me ver livre desse compromisso desagradável’.

 

Com saúde física e mental preservadas, dedico boa parte do primeiro e do segundo semestre a essa tarefa. Era isso o que eu quis dizer.

 

Alguns leitores, porém, entenderam que eu estivesse pessimista.

 

Aos noventa anos, disseram, que eu deveria pedir aos céus que o tempo passasse bem devagar.

 

Se fosse por mim, ele nem passaria. Estou na reta final da jornada.

 

Tenho medo de tudo relacionado à morte.

 

Estudei para evitá-la. Sempre a encarei como uma derrota.

 

Há dor, sofrimento e a inevitável sensação de perda.

 

Todos, um dia, enfrentam o luto — mas nem todos sabem administrá-lo.

 

Por isso, cada comentário recebido é uma lição, e nos ajuda a evitar mal-entendidos.

 

Não gosto de escrever sobre temas fúnebres.

 

Prefiro registrar o cotidiano, cheio de poesia e de pequenos ensinamentos.

 

Vivemos um mês alegre — com as festas juninas e suas tradições religiosas.

 

Santo Antônio, São João, São Pedro e no primeiro domingo de julho — o São Benedito.

 

E logo estaremos nas festas natalinas e de Ano Novo.

 

Desejo acompanhar essa rotina por muitos anos, com saúde.

 

Ver meus bisnetos crescerem, desenvolverem-se e, quem sabe, ingressarem na universidade.

 

Sinto-me respeitado e querido pela cidade onde nasci, no Centro Histórico.

 

E quis o destino que além do estetoscópio, no crepúsculo da vida, eu me tornasse também um contador de estórias da minha terra e da sua gente.

 

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado

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