O novo “Big Stick” do trumpismo/ Sérgio Cintra

Opinião



Redação 

As duas guerras mundiais tornaram os Estados Unidos a principal economia do mundo; em 1944, na Conferência Bretton Woods, na tentativa de reorganizar a economia e o comércio mundial, 44 países digladiam-se em torno de duas teses: a de John Maynard Keynes (Reino Unido) e a de Harry Dexter White (Estados Unidos).

 

 

 

Keynes propunha uma moeda internacional, o Bancor, e White queria o Dólar como a moeda de reserva atrelada ao ouro. Os USA tinham as maiores reservas de ouro do mundo e a sua moeda tornou-se hegemônica nas relações comerciais; todavia, em 1971, Nixon, unilateralmente, por conta de uma combinação de fatores econômicos e geopolíticos, decide desatrelar o Dólar do ouro (Choque Nixon).

 

 

 

Assim, o desatrelamento entre Dólar e ouro, tornando-o uma moeda fiduciária, no médio e longos prazo, trouxe sérias consequências para os EEUU; dentre elas, duas ameaçam a economia norte-americana atualmente e por causa delas a imposição do “Tarifaço” pretendido pelo presidente estadunidense: uma, o superendividamento, US$ 36,2 trilhões (120% do PIB); outra, a desindustrialização e consequente dependência de mercados externos como do Japão e da China.

 

 

 

Mesmo que Trump use cortinas de fumaças para justificar esse tarifamento exorbitante (bravatas trumpistas (“Estamos fazendo isso porque eu posso fazer.”) e de ataques ao Supremo Tribunal Federal (“É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”); ele e sua equipe econômica querem, em parte, reeditar o “Acordo Plaza” (1985) e o “Acordo do Louvre” (1987) para impor um novo acordo monetário que salve a economia estadunidense.

Nem o “Tarifaço Global”, porque é preciso “combinar” com os chineses, nem o novo acordo monetário, que anseia com a continuidade do Dólar como moeda fiduciária de reserva, prosperarão; ao contrário, trarão desaceleração do comércio global; mercados financeiros mais voláteis; tarifas recíprocas e protecionismo; redirecionamento das cadeias produtivas; enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) e estagflação global.

 

 

 

Então é o caos? Depende. Se os USA continuarem se apoiando na arrogância, no protecionismo e no ufanismo (“Make America Great” ou “Torne a América Grande Novamente”), impondo medidas unilaterais e repaginando, para pior, o “Big Stick” muito provável que as relações multilaterais mudem completamente.

 

 

 

O mundo como conhecemos desaparecerá. Contudo, se retomarmos a proposta keynesiana pensando em uma moeda de reserva internacional não capitaneada por um país; uma “federação” de bancos centrais; uma relação comercial justa entre países; um controle maior no fluxo internacional de capitais para garantir políticas de pleno emprego, agregando novas tecnologias e sustentabilidade, haveria a possibilidade concreta de contribuirmos na construção de uma sociedade na qual possamos pensar que “A verdadeira dificuldade não está em aceitar ideias novas, mas escapar das antigas.” (John Maynard Keynes).

 

 

 

Sérgio Cintra é professor de Linguagens e está servidor do TCE-MT.

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