1964: Nunca mais! Por Sérgio Cintra

Opinião



Redação 

As trevas caíram sobre o Brasil: 1º de abril de 64, a ditadura civil-militar era imposta aos brasileiros. Um golpe de estado depôs o presidente João Goulart, o Jango, (aliás, assassinado por envenenamento no Uruguai pelos generais de plantão no Alvorada) e iniciava-se os “Anos de Chumbo” na terra de Castro Alves. Era o início de uma noite que durou 21 anos... recentemente, o sonho dantesco do retorno da tirania, da repressão, da censura e do fim da Democracia que, a partir de 1988, criou asas e que para alguns, precisavam ser cortadas: novembro de 2022 e 08 de janeiro de 2024. Obviamente, não são fatos aleatórios ou isolados. Antes, fazem parte de um plano maquiavélico para demonizar e aniquilar as práticas democráticas.

Deixando de lado a concretude dos fatos que são inquestionáveis; passemos às ilações: 1. Taxar Lula e Alexandre Moraes de comunistas é, no mínimo, hilário. O comunismo prega a abolição do Estado; o fim da propriedade privada; o fim das classes sociais; o fim da relação capital-trabalho (Mais-valia) e a coletivação dos meios de produção (ambos jamais falaram em nenhum desses princípios basilares dos “comunas”; 2. O uso de Fakes News para espalhar medo e indignação, por exemplo, Manuela d’Ávila usando uma camiseta dizendo que “ Jesus é travesti” ou  o “Kit Gay” nas escolas propalado por Bolsonaro, isso é apenas a reprodução de Goebbels : “Uma mentira repetida 1000 vezes vira verdade”; 3.  Aceitar como “normal” as falas do ex-presidente (“Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher fique à vontade.” Bolsonaro, sobre o turismo sexual) é minimizar os efeitos deletérios dessas falas racistas, homofóbicas e sexistas que apenas refletem o conservadorismo que impera em boa parte da sociedade brasileira.

Em 64, em um Brasil com 75% de analfabetos e 95% de católicos, a anuência de líderes políticos nacionais, o militarismo histórico latino-americano, o conservadorismo estrutural das elites, o apoio da Igreja Católica e a política externa estadunidense (Guerra Fria) foi engendrado um golpe de estado que afundou o país em 21 anos de ditadura. Analogamente, com outros atores (mesmo que da mesma seara: políticos, militares, elite econômica, religiosos e forças externas) houve, em 2022 e em 8 de janeiro, mais uma tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito. Fatos orquestrados pelos que defendem a supremacia das elites que usurpam o poder a séculos nesta Pindorama repleta de palmeiras e de alienados. 

Portanto, diante de provas robustas que culminaram com a prisão de militares  e de o agente da Polícia Federal, não é possível pensar que não há uma ameaça real à Democracia, que os derrotados nas eleições de 2022 recolheram as baionetas, que o nazifascismo está sepultado. Infelizmente, as forças reacionárias estão mais atuantes que nunca, catapultadas pelas redes sociais. Assim, como em “Cem Anos de Solidão”, parece que estamos sentenciados a reproduzir modelos excludentes e antidemocráticos “…porque as estirpes, condenadas a cem anos de solidão, não tinham uma segunda chance sobre a terra.” Que pena.

Sérgio Cintra é professor de Linguagens e está servidor do TCE-MT.

sergiocintraprof@gmail.com

 

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