- Pela Redação
- 29/05/2023
Redação
Eles têm o peso, a textura e feições que imitam com impressionante fidelidade um recém-nascido. Os bebês reborn — bonecos hiper-realistas que reproduzem bebês humanos — vêm conquistando espaço entre adultos, especialmente mulheres, despertando tanto fascínio quanto controvérsia. Mais do que simples brinquedos, esses bonecos atravessam a linha tênue entre realidade e representação, exigindo um olhar cuidadoso sobre suas implicações psicológicas.
A psicóloga Valéria Figueiredo, docente do curso de Psicologia da Estácio, analisa o fenômeno à luz da cultura contemporânea, onde a imagem ocupa o centro das relações sociais e econômicas. “Na era do imaginário, precisamos nos perguntar: o que é real?”, questiona. Segundo ela, vivemos uma “inflação semiótica”, na qual símbolos se afastam de significados concretos. É nesse cenário que os bebês reborn se inserem como representantes do hiper-real, ocupando o espaço deixado pelo real.
Do ponto de vista emocional, o apego a esses bonecos pode ser multifacetado. Para algumas mulheres que enfrentaram perdas gestacionais, infertilidade ou a saída dos filhos de casa, eles funcionam como uma expressão simbólica do maternar. A rotina de cuidados com o boneco — dar colo, trocar roupas, alimentar — oferece conforto e propósito.
O luto também encontra nesses bonecos uma possível forma de elaboração simbólica. A semelhança com um bebê real pode canalizar afetos e saudades, atuando como objeto de transição em momentos de dor. Ainda assim, Valéria adverte: o acompanhamento psicológico é necessário para que a fantasia não impeça a vivência saudável da perda.
Em um mundo marcado pela solidão e vínculos frágeis, os bebês reborn também representam companhia. Eles estimulam rotinas, conversas e interações em comunidades online, oferecendo uma sensação de pertencimento. Além disso, sua previsibilidade oferece controle emocional a quem teme os riscos das relações humanas.
A teoria do apego ajuda a entender o conforto que essas figuras proporcionam. Pessoas com histórico de traumas ou padrões de apego inseguros podem encontrar nos reborns uma fonte de segurança emocional, livre de rejeições.
No entanto, há limites. Quando o vínculo com o boneco passa a substituir relações humanas reais ou se transforma em fuga das dores emocionais, o risco de sofrimento psíquico aumenta. Nestes casos, a psicoterapia é essencial.
O debate em torno dos bebês reborn lança luz sobre questões profundas: até onde a fantasia pode ir? Em que medida o simbólico pode (ou deve) substituir o real? Compreender essas motivações com empatia e responsabilidade é o primeiro passo para lidar com essa nova forma de vínculo emocional que desafia a lógica tradicional das relações humanas.
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