- Pela Redação
- 29/05/2023
Maysa Leão
O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, é uma data de celebração das conquistas das mulheres, mas também de reflexão sobre os desafios ainda enfrentados na busca pela igualdade de gênero. Não podemos nos contentar com um olhar superficial sobre o que já foi alcançado, sem antes confrontar os números e as realidades que persistem.
No cenário político, a representatividade feminina é essencial, principalmente no parlamento municipal, que é onde as políticas públicas impactam diretamente o cotidiano da população. Em Cuiabá, por exemplo, uma cidade composta por 52% de mulheres, é inadmissível que o parlamento seja predominantemente masculino, como foi o caso da 19ª legislatura, onde não havia nenhuma mulher.
O panorama mudou com a 20ª legislatura, quando entrei, mas a progressão foi lenta: o número de mulheres foi reduzido para apenas duas, até que, na 21ª, alcançamos a marca de oito mulheres. Embora haja avanço, ainda não atingimos a paridade, que seria o ideal. Afinal, se temos 52% de mulheres na sociedade, um parlamento com essa porcentagem de cadeiras ocupadas por mulheres seria um retrato mais fiel da realidade da população.
O que está em jogo não é apenas o aumento do número de mulheres, mas a transformação do debate político. A inclusão feminina no parlamento traz à tona temas muitas vezes negligenciados, mas de extrema importância. A mulher tem um olhar único sobre questões como a infância, a educação infantil, a gestação e o pré-natal, e essa perspectiva pode enriquecer a discussão sobre políticas de saúde materno-infantil, tornando-as mais eficazes e abrangentes.
Se tivermos mais mulheres participando ativamente da política, as políticas públicas também se tornarão mais sensíveis às demandas das famílias, como a gestão de cuidados com os idosos, responsabilidade que muitas mulheres assumem em suas casas.
Os debates políticos são focados frequentemente em questões de infraestrutura e urbanismo. Enquanto homens, de forma geral, priorizam as áreas industriais e a ampliação da mobilidade urbana, as mulheres têm uma visão mais ampla, que envolve não apenas o ambiente urbano, mas a qualidade de vida das crianças, das famílias e da terceira idade. Essas questões, muitas vezes, não são suficientemente discutidas.
Um dos maiores desafios que enfrentamos, especialmente em Mato Grosso, é a violência contra a mulher. O estado está entre os mais violentos do Brasil, que, por sua vez, é o quinto país mais violento do mundo para as mulheres. A alta taxa de feminicídios em nossa sociedade não pode ser ignorada e exige ações urgentes e concretas.
Precisamos de políticas públicas mais eficazes para apoiar mulheres vítimas de violência, de ações práticas, como programas de prevenção nas escolas e centros de acolhimento para mulheres que denunciam abusos. Além disso, fortalecer a rede de apoio e garantir que mulheres e crianças tenham acesso à educação, ao mercado de trabalho e à independência financeira.
É preciso também lembrar que, embora a presença feminina no parlamento seja um avanço, ela deve ser vista como uma mudança no próprio modelo de poder. A política não pode continuar sendo dominada por uma única visão de mundo. Ter homens e mulheres juntos debatendo as políticas públicas reflete melhor o que a sociedade realmente precisa e deseja.
Como vice-presidente da primeira mesa 100% feminina de uma capital, percebo o impacto de um parlamento mais plural, que estimula outras mulheres a entrarem na política e a se engajarem nas questões sociais de sua cidade. Esse é um novo tempo, que se inicia na 21ª legislatura de Cuiabá, mas que deve ser ampliado por todo o país.
A verdadeira democracia só será alcançada quando todos, independentemente do sexo, tiverem suas vozes ouvidas e seus direitos respeitados. E isso passa pela plena representatividade feminina nos espaços de poder. A paridade de gênero não é apenas uma questão de justiça social, mas uma necessidade para a construção de políticas públicas mais inclusivas, que promovam uma sociedade mais justa, equilibrada e, sobretudo, mais humana.
Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas estamos cada vez mais próximas de garantir que a política, em todos os seus níveis, seja um reflexo fiel de nossa sociedade. Ao garantir a presença ativa das mulheres no parlamento, garantimos um futuro mais equânime e acessível para todos.
Maysa Leão é vereadora por Cuiabá.
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