O Perdão no Ano Jubilar

DEUSDÉDIT DE ALMEIDA



Deusdédit de Almeida

No jubileu da encarnação de 2025,  somos convidados a uma reflexão sobre o sentido do perdão. A incapacidade de perdoar é uma das feridas deixadas pelo pecado na pessoa humana. Verdadeiramente, o perdão é um grande ato de caridade e misericórdia.

O evangelho, livro repleto de sabedoria divina e humana, aparece inúmeras vezes, mensagens sobre o perdão. O texto mais incisivo sobre o perdão é o de Mt 18,21-22. Neste texto Pedro, muito pragmático e na condição de Judeu, arrisca a pergunta, já respondida pelos Rabinos da época, os quais admitiam o máximo de três ou, no limite, quatro perdões. Significa que para os Rabinos, o perdão era limitado. Mas para Jesus, o perdão é sem limite.

O pensamento de Jesus se expressa na resposta à Pedro: “Não te digo sete vezes, mas setenta vezes sete.”  Portanto, o discípulo de Jesus, de ontem e de hoje, deve perdoar sempre!  O recado de Jesus é claro: perdão incondicional, como único remédio capaz de curar todas as feridas causadas pelas contendas, pelos conflitos pessoais familiares e comunitários.

Na verdade, Jesus confirma o princípio fundamental que já está expresso na oração do Pai-nosso. No Pai nosso, nós nos comprometemos com Deus: perdoai-nos assim como nós perdoamos nossos devedores. Adverte W. Shakespeare: “aquele que odeia pode ser comparado à uma pessoa pouco inteligente, que a cada dia engole uma colherada de veneno, imaginando que o veneno fará mal ao inimigo”.

Pessoas ressentidas vivem envenenadas por dentro.  Recentes estudos de caráter científico feitos por universidades do mundo, revelam que o ódio gera doenças nas pessoas e dificulta a cura. Várias doenças são causadas pela somatização do ódio, do sentimento de vingança e a incapacidade de perdoar.

O escritor Stephen Covey utiliza a expressão: “Dormir com o inimigo”. Significa levar para dormir conosco em nosso coração e em nossa mente, uma pessoa ou uma situação que nos fez mal. É muito comum ouvir pessoas ressentidas dizendo: “Fulano morreu para mim”. Quando perdoo é meu coração e a minha mente que ficam livres da amargura.  Pois, o amargor e mal-estar corroem a vida.

Perdoar é varrer da memória o episódio que um dia nos machucou de forma tão cruel. A sabedoria africana se expressa: “Faze como a palmeira: atiram-lhe pedradas e ela deixa cair suas tâmaras”. No Brasil se diz: ”Sê como o Sândalo que perfuma o machado que o fere”. Portanto, não é suficiente revidar uma injustiça, uma ofensa.

Somos convidados a muito mais: a fazer o bem a quem nos fez o mal. Assim disse Jesus “amai vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem. “Não pagueis o mal com o mal, nem ofensa com ofensa “(Mt 5,44). A virtude do perdão, no seu duplo aspecto, perdoar e pedir perdão, é uma característica especial da misericórdia. É quase um ato de martírio. É só através do perdão que a humanidade consegue interromper a espiral de violência provocada pela vingança e pelas guerras. Pois, ódio chama ódio, guerra chama guerra, violência chama violência.

A herança deixada pelas guerras no mundo é o ódio metalizado nas profundezas da alma humana. São feridas tão profundas que demoram séculos para serem curadas e esquecidas. Somente o perdão tem uma força capaz de reconstruir a amizade social, as  relações fraternas quebradas entre as pessoas e grupos humanos.

Ninguém nasce odiando. O ódio é agregado na pessoa humana pela sociedade e convivência humana. Ore e peça a Deus pelas pessoas que te fizeram ou te fazem sofrer. Pessoas que te ofenderam e te magoaram. Comumente, l o sentimento de raiva ou rancor é contra  pessoas que já fizeram parte do nosso círculo de amizade.

Lembrando sempre que as pessoas que nos maltratam, têm, também, suas dificuldades, tristezas, decepções, frustrações, suas cargas negativas do passado e sofrimentos. Se pagamos o mal com o bem, estaremos figurando entre os discípulos do Divino Mestre. Pois, somente o bem é capaz de vencer o mal. Perdoar é zerar o mal. O perdão cura, alivia e salva. Perdoar é a maior recompensa que podemos dar a nós mesmos. .

O exemplo mais emocionante e edificante de perdão foi dado por Jesus do alto da cruz. Com plena harmonia interior, olhou para seus algozes e suplicou: “Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Ali nasceu a humanidade nova, perdoada, redimida e feliz.

Pe. Deusdédit de Almeida é sacerdote diocesano da Catedral de Cuiabá.

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