Presidente da Conmebol faz comparação de times brasileiros com macacos: 'Tarzan sem Chita'

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O Globo

Depois de fazer um discurso em português condenando o racismo no futebol, durante o sorteio da Libertadores e da Sul-Americana, na noite de segunda-feira, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, fez uma infeliz analogia envolvendo um macaco ao responder se imaginava como seria uma Libertadores sem a participação dos clubes brasileiros - o boicote havia sido sugerido pela presidente do Palmeiras, Leila Pereira.

— Isso seria como Tarzan sem Chita. Impossível — disse o dirigente, referindo-se à personagem icônica de filmes e série de TV, animal de estimação do herói das selvas e de Jane, sua companheira.

Leila sugeriu que as equipes brasileiras abandonassem as competições da Conmebol depois do caso de racismo sofrido pelos atletas Figueiredo e Luighi, ofendidos por torcedores do Cerro Porteño durante jogo da Libertadores Sub-20, no último dia 6. Seria uma resposta à punição aplicada pela entidade ao clube paraguaio, considerada extremamente branda pelo Palmeiras.

A Conmebol puniu o Cerro Porteño com jogos de portões fechados durante a Libertadores Sub-20 deste ano e com uma multa no valor de US$ 50 mil (cerca de R$ 290 mil, na cotação atual).

O que o presidente da Conmebol diz?

Imediatamente, clubes brasileiros filiados à Libra se movimentaram para exigir uma retratação do presidente da Conmebol, que veio pouco depois, com uma nota publicada nas redes sociais. Ele pediu desculpas e afirmou que usou uma frase popular, sem intenção de menosprezar ou desqualificar ninguém.

"Em relação às minhas recentes declarações, quero expressar minhas desculpas. A expressão que utilizei é uma frase popular e jamais tive a intenção de menosprezar nem desqualificar ninguém. A CONMEBOL Libertadores é impensável sem a participação de clubes dos 10 países membros.

Sempre promovi o respeito e a inclusão no futebol e na sociedade, valores fundamentais para a CONMEBOL. Reafirmo meu compromisso de seguir trabalhando por um futebol mais justo, unido e livre de descriminação."

Reações à declaração de Domínguez

O Ministério do Esporte publicou uma nota em repúdio à fala do dirigente: “O Ministério do Esporte manifesta seu total repúdio às declarações do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, que escolheu a pior analogia para comentar a importância dos clubes brasileiros na Copa Libertadores. Expressões dessa natureza são inaceitáveis e não condizem com o respeito e a responsabilidade que o futebol sul-americano exige de seus dirigentes”.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, também se manifestou sobre o assunto. “Quando vi a declaração do presidente Alejandro Domínguez, confesso que custei a acreditar que ela fosse verdadeira. Achei até que pudesse ser um vídeo manipulado por Inteligência Artificial. Aliás, pensando bem, acho que nem mesmo a Inteligência Artificial seria capaz de produzir uma declaração tão desastrosa quanto esta. Não é possível que, mesmo após o caso de racismo do qual os atletas do Palmeiras foram vítimas no Paraguai, o presidente da Conmebol faça uma comparação abominável como a que ele fez. Parece até uma provocação ao Palmeiras e aos demais clubes brasileiros”, escreveu a dirigente, que não compareceu ao evento em protesto à Conmebol.

Antes do sorteio da Libertadores, Alejandro fez um discurso em português admitindo que as sanções aplicadas pela entidade não têm sido suficientes para coibir atos racistas em jogos de futebol no continente.

— O racismo é um flagelo que não tem origem no futebol, tem origem na sociedade. Mas afeta o futebol. A Conmebol é sensível a essa realidade. Como podemos não ser sensíveis à dor do Luighi? Nosso desafio é estarmos junto com aqueles que não são responsáveis por esses atos. A Conmebol aplica sanções e faz tudo que está a seu alcance para mudar essa realidade. Mas isso não é suficiente. Precisamos entender que o racismo está enraizado na sociedade e que o futebol como organização está lutando com as ferramentas que estão ao seu alcance. Quero anunciar que a Conmebol decidiu convocar as autoridades de governo de todo o continente e as associações membro com o objetivo de estabelecer uma ação conjunta que permita responder de forma simultânea a qualquer forma de discriminação e violência — discursou Domínguez.

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