- Pela Redação
- 29/05/2023
Da Redação
"Falar da mulher em um dia de luto é muito triste. A morte de Emelly nos lembra que ainda há muito a ser feito. Sua filha, que sobreviveu, não precisará ir para uma casa-lar porque tem avós e um pai, mas quantas outras crianças ficam órfãs pela violência de gênero? Eu estive no velório e disse à mãe dela: sua filha não morreu em vão. Junte-se a nós na luta contra a violência contra a mulher. Esse crime foi um feminicídio contra Emelly e uma tentativa de feminicídio contra sua bebê. Hoje, mais do que comemorar, precisamos refletir: onde estamos falhando? Na educação? Na família? Na fé? Uma delegacia 24 horas evitaria essa morte? O que impediria esse crime é educação, respeito e dignidade ao outro, independentemente da cor, raça ou gênero".
Com essa fala impactante, a prefeita de Várzea Grande, Flávia Moretti (PL), abriu seu discurso na Sessão Solene do Título "Sarita Baracat", realizada na noite desta sexta-feira (14), na Câmara Municipal de Vereadores. Em meio às homenagens às mulheres que fazem a diferença na cidade, o evento também se tornou um espaço de indignação e cobrança por medidas mais efetivas contra a violência de gênero.
"Já fui agraciada com o título ‘Sarita Baracat’ e me sinto honrada porque conheço a história dessa grande mulher. Hoje, digo a todas vocês: não desistam dos seus sonhos. Agarrem suas oportunidades. Podemos ocupar espaços de poder sem precisar nos masculinizar. Podemos ser líderes, tomar decisões e, ao mesmo tempo, sermos femininas".
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Um evento marcado por homenagens e cobranças
Logo no início da cerimônia, o presidente da Casa, vereador Wanderley Cerqueira, pediu um minuto de silêncio em memória da jovem Emelly Azevedo Sena, de 16 anos, brutalmente assassinada nesta semana. A adolescente, moradora de Várzea Grande, teve sua filha arrancada do ventre, um crime que chocou a cidade. O vereador Wender Madureira prestou uma homenagem póstuma à vítima, ressaltando a urgência de políticas públicas mais eficazes para combater a violência contra as mulheres.
A vereadora Gisa Barros destacou os avanços nos direitos femininos, mas alertou sobre a necessidade de medidas mais rigorosas contra o feminicídio e cobrou a implementação de uma Delegacia da Mulher funcionando 24 horas em Várzea Grande. Ao final de sua fala, dirigiu-se à prefeita Flávia Moretti, pedindo que as leis municipais voltadas às mulheres sejam efetivamente aplicadas.
A solenidade, presidida pela primeira-secretária da Mesa Diretora da Câmara, vereadora Rosy Prado, teve uma composição exclusivamente feminina na mesa de honra, reforçando a importância da representatividade da mulher na política. Karen Rangel, esposa do vice-prefeito Tião da Zaeli, também fez um discurso destacando que as mulheres devem ser parceiras dos homens na política e na sociedade, sem necessidade de competição, mas complementando-se para uma construção conjunta.
A necessidade de infraestrutura adequada para atender mulheres vítimas de violência também foi levantada por Mariana Barão, representante do Tribunal de Contas e da advocacia de Várzea Grande. Ela cobrou a instalação de um Instituto Médico Legal (IML) no município, uma vez que, atualmente, as vítimas precisam se deslocar até Cuiabá para realizar exames de corpo de delito.
A diretora da Câmara, Lorineide Hiã, homenageou as agraciadas da noite, lembrando que o título leva o nome de Sarita Baracat, a primeira mulher a governar Várzea Grande. "Ela foi uma desbravadora, enfrentou desafios em uma época muito mais difícil para as mulheres. Hoje, seguimos seu legado".
A vereadora Rosy Prado, que conduziu a sessão, enfatizou a importância da união feminina. "Temos três vereadoras nesta Casa e uma prefeita na cidade, um grande orgulho. A violência política contra as mulheres diminuirá quando formos mais unidas. Mulher apoia mulher. Nós só queremos respeito".
Novos rumos para as políticas públicas em Várzea Grande - Em seu pronunciamento, a prefeita Flávia Moretti anunciou medidas importantes para a cidade, incluindo a criação da secretaria municipal de Políticas Públicas para as Mulheres, que será apresentada ainda este ano à Câmara Municipal. A iniciativa visa captar recursos federais para fortalecer ações voltadas às mulheres, além de viabilizar a instalação da Casa da Mulher Brasileira em Várzea Grande, um projeto que já conta com o apoio da deputada Janaína Riva.
A prefeita também destacou as ações realizadas durante o mês da mulher, como os mutirões de laqueadura, colocação de DIU e cirurgias de catarata, reforçando a importância da saúde integral feminina. Segundo ela, investir na prevenção é mais barato do que ampliar creches e escolas para atender uma demanda crescente de mães jovens sem estrutura para criar seus filhos.
Além disso, Flávia Moretti afirmou que buscará para Várzea Grande um IML próprio e trará o serviço de perícia para vítimas de violência doméstica ainda este ano, além da tão reivindicada Delegacia da Mulher funcionando 24 horas.
À noite, que começou em tom de luto, terminou com um chamado à ação: a luta por uma cidade mais segura, mais justa e com mais oportunidades para todas as mulheres de Várzea Grande.
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