Meirelles diz que o Brasil pode ‘afundar’ se Lula mantiver padrão de gastos

AUMENTO DE GASTOS



ISTOÉ

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou, em entrevista exclusiva à IstoÉ, que o aumento de gastos do governo federal pode fazer o país “afundar” em alguns anos. O economista alega que não há chances de crise no curto prazo, mas alerta para a necessidade de controlar a dívida pública imediatamente.

Nos últimos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido alvo de críticas pelo aumento nos gastos. Para tentar acalmar os ânimos do mercado, o petista e sua equipe econômica precisaram lançar um pacote de medidas para reduzir os custos, mas, mesmo assim, o Planalto é pressionado pelo mercado e pelos técnicos da Fazenda.

Na avaliação de Meirelles, os reflexos da dívida pública chegarão a partir de 2027, ou seja, no próximo governo.

“A crise pode haver em um prazo mais longo, de alguns anos, se continuar o padrão de gastos e expansão fiscal neste governo e no próximo. Podemos ter uma dívida pública subindo a um nível que não se torne sustentável. A partir de 2027 ou 2028, o país poderá enfrentar um problema maior”, afirmou.

Além dos gastos, a economia do país é pressionada pela inflação, que atingiu 4,83% em 2024, ultrapassando o teto previsto pelo Ministério da Fazenda. O maior impacto é sobre os preços dos alimentos, que dispararam nos últimos meses.

Ao mesmo tempo em que a economia se torna protagonista na reprovação de Lula, o governo petista cobra uma redução na taxa básica de juros. Atualmente, a Selic está em 13,25%, o maior imposto registrado desde 2017. No mercado financeiro, há expectativa de mais uma alta de 1 ponto percentual, podendo chegar a 14,25%, superando o imposto registrado em julho de 2016.

Para Henrique Meirelles, as decisões do Banco Central são corretas, e há necessidade da alta de juros para manter o crescimento do país. Com a Selic elevada, a pressão sobre a inflação cresce, o que pode colaborar para a redução dos preços.

“Acho que o Banco Central está agindo corretamente. Eu acho que essas decisões que já foram anunciadas e cumpridas, inclusive a primeira reunião presidida pelo Galípolo, sinalizam isso.”, avalia o economista.

“No entanto, muitas vezes, o governo, na boa intenção de crescer o máximo possível, incentiva a demanda, inclusive com benefícios sociais, etc, a demanda sobe, mas isso pressiona a economia no sentido de a economia não ser capaz de produzir tudo isso para aquele momento. Então nós temos a inflação, e aí o Banco Central tem que elevar a taxa de juros. Nós estamos crescendo”, concluiu.


Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda durante o governo de Michel Temer (MDB), em entrevista à IstoÉ

Os juros são alvo de críticas, principalmente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus principais aliados, como a nova ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Durante a gestão de Roberto Campos Neto, Lula fez questão de intensificar críticas públicas ao então chefe do Bacen e pressionar pela redução dos juros para aquecer a economia.

Nos comunicados, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) justifica a pressão inflacionária, impulsionada pelos preços dos alimentos e da energia elétrica, como motivo para aumentar a taxa de juros. Meirelles está regularizando o resfriamento econômico com a alta da Selic, mas avaliando que o país continuará crescendo nos próximos anos.

Mesmo com a economia do país sob suspeitas, Meirelles afirma que o Brasil está crescendo e deve continuar nesses rumos nos próximos anos. Ele cita a necessidade de que a política fiscal e os juros caminhem juntos para controlar a economia.

“Olha, o Brasil está crescendo. Nós estamos com a economia um pouco sobreaquecida. Você mencionou que, por exemplo, nós estamos no limite da empregabilidade, com um desemprego que está em níveis baixos pelos padrões e pela história brasileira. E isso gera um pouco de inflação, porque a economia cresce dentro do que é possível produzir”, aponta Meirelles.

“Os juros de mercado de longo prazo já são relativamente altos. Então, isso tende a esfriar um pouco a economia. Mas, ainda no sentido positivo, o país vai crescer a taxas menores e vai continuar crescendo”.

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