Base de Nunes ignora Boulos e já trava batalha por comando da Câmara Municipal

CORRIDA ELEITORAL EM SP



Metrópoles

Diante da perspectiva de uma vitória sem sobressalto de Ricardo Nunes (MDB) sobre Guilherme Boulos (PSol) no segundo turno da eleição à Prefeitura da capital, vereadores dos principais partidos da base do prefeito na Câmara Municipal já articulam alianças para a eleição da Mesa Diretora do Legislativo no próximo ano.

O movimento ganhou contornos de traição, segundo alguns vereadores, porque dois dos partidos envolvidos na disputa, o PL e o União Brasil, haviam firmado um acordo, antes da eleição, para lançar um nome conjunto à presidência da Câmara — acordo que agora está abalado.

As articulações dos vereadores irritaram membros da campanha de Nunes, que esperavam foco total na reeleição do prefeito. Na terça-feira (8/10), durante uma reunião com os vereadores eleitos de sua base, Nunes afirmou que, com a ajuda dos parlamentares, “tratoraria” o rival do PSol.

Na sexta-feira (10/10), o prefeito criticou a movimentação: “Essa turma precisa é ir para a rua fazer campanha e parar de futrica”, declarou.

Aliados em campanha

Na Câmara, quatro partidos são cotados para a presidência: além de União Brasil e PL, o MDB, partido de Nunes, e o PSD.

O atual presidente da Câmara, Milton Leite (União Brasil), havia decidido, no início do ano, não concorrer à reeleição para vereador. No entanto, ele continuou articulando para manter sua influência na Casa, adotando o apelido de “guardanapo”, pois “não sai da mesa [diretora]”.

Parte dessa articulação incluiu uma promessa do PL de que o partido de Jair Bolsonaro na cidade apoiaria um nome do União para a presidência. Em troca, o partido de Leite abriu mão de reivindicar a vice na chapa de Nunes, que o prefeito havia prometido ao ex-presidente — o indicado foi o Coronel Mello Araújo (PL).

Contudo, esperava-se que o União Brasil saísse fortalecido das eleições deste ano. Milton Leite montou uma chapa com influenciadores digitais e outros nomes de fora da política paulistana, e a expectativa era eleger 12 vereadores.

Com o fim da apuração, o partido elegeu sete nomes — dois deles, Rubinho Nunes e Adrilles Jorge, sequer fizeram campanha para Nunes, defendendo o voto em Pablo Marçal (PRTB).

Para vereadores, esse desempenho enfraqueceu o União Brasil e encorajou outros partidos a buscar mais espaço na política municipal.

O PL foi o primeiro a se movimentar abertamente. O presidente do diretório municipal do partido, Isac Félix, convidou o prefeito para uma reunião que decidiu que a sigla lançaria um candidato próprio, segundo Nunes. O prefeito se recusou a participar. Seis dos sete vereadores do PL participaram do encontro e confirmaram a candidatura própria.

Por meio de nota, Félix afirmou que “a bancada estava reunida para alinhamento em prol do prefeito Ricardo Nunes”. “Não houve qualquer comentário sobre a presidência da Câmara com o prefeito, nem qualquer pedido de aval”.

No partido do prefeito, dois ex-líderes do governo Nunes na Câmara, ambos oriundos do PSDB, já conversam com aliados sobre o assunto: João Jorge e Fabio Riva. Nesta semana, durante uma reunião de Nunes com todos os vereadores eleitos pela coligação do prefeito, ambos afirmaram que só discutiriam o tema após o segundo turno, pois a prioridade era garantir a reeleição de Nunes.

O mesmo ocorre com o vereador Rodrigo Goulart (PSD), também cotado como possível candidato. Embora o PSD tenha eleito apenas três vereadores, Goulart foi um dos parlamentares mais envolvidos na campanha de Nunes, participando de diversas agendas de rua, e é visto como “conciliador” por ter costurado acordos com os partidos de oposição — PT e PSol — durante as discussões do ano passado sobre a revisão do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento.

“Não sou candidato”, disse Goulart, acrescentando que discutir o assunto agora é “um desrespeito à democracia”.

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