Boulos diz que não sentiu falta de Lula e que direita falou melhor com trabalhadores

'HIPÓCRITA, MAS SEDUTORA'



g1

Em entrevista à GloboNews na tarde desta terça-feira (22), o candidato à prefeitura Guilherme Boulos (PSOL) explicou o motivo de ter buscado um diálogo mais direto com os moradores de periferia — por meio da "Carta ao povo de São Paulo — apenas na reta final da eleição e afirmou que a extrema-direita soube passar uma mensagem mais "sedutora" aos trabalhadores autônomos da capital.

O deputado federal afirmou que o lançamento do texto tem relação direta com os ataques sofridos por ele longo da campanha: "O primeiro turno foi um negócio violento muito duro, uma campanha cheia de mentiras, fui vítima de um laudo falso de uso de drogas a 48 horas da eleição no primeiro turno".

"As pessoas têm um receio. 'Será que o Boulos dá conta?'. O que eu quis dizer com essa carta é dar segurança para esse eleitor que quer mudança na cidade de São Paulo, porque me preparei para governar, juntei um time de especialistas, trouxe a Marta Suplicy [PT], fui conhecer soluções internacionais", completou.

Na carta publicada em suas redes sociais nesta segunda-feira (21), o candidato afirma que, se eleito, fará um governo de diálogo. O gesto é similar ao que fez o presidente Lula em 2002, quando publicou a "Carta ao povo brasileiro" durante a campanha de sua primeira vitória numa eleição presidencial.

O objetivo é suavizar a imagem de Boulos, que liderou o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e é visto como um radical de esquerda por parte do eleitorado.

O texto também é uma forma de aceno a moradores da periferia e trabalhadores autônomos que se identificaram mais com o discurso de Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno.

"A extrema-direita, muitas vezes, soube passar uma mensagem hipócrita, porque não está preocupada de verdade com essas pessoas, mas soube passar uma mensagem mais sedutora", afirmou Boulos.

"Não disse que a esquerda deixou de falar com a periferia, deixamos de falar com tanta gente que também batalha e que buscou encontrar a sua própria forma de ganhar a vida, ou seja, com esses trabalhadores", disse.

Sobre apoio político, Boulos reconheceu que teve ampla cooperação do Partido dos Trabalhadores (PT) em sua campanha. "De forma integral, inclusive com fundo eleitoral", destacou. O candidato apontou, ainda, que o presidente da República foi muito ativo em sua campanha: "Sou muito grato pelo apoio do presidente Lula ao longo dessa campanha inteira. Foi a única campanha no Brasil inteiro que o Lula veio, fez, gravou, fez comício, fez caminhada, fez carreata".

PCC infiltrado na prefeitura

Guilherme Boulos citou, ainda, a possibilidade de a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) estar infiltrada na capital por meio da prestação de serviços e obras para a Prefeitura de São Paulo.

O candidato mencionou reportagem publicada nesta terça (22) pelo jornal "O Globo" que fala sobre uma investigação da Polícia Federal em relação à denúncia.

"É uma denúncia que eu tenho feito continuamente nos debates através do ex-cunhado do Marcola, comandante maior do PCC, que é chefe de gabinete da secretaria de Obras", afirmou.

"Já tinham sido feitas as denúncias e até operação policial com prisões de donos de duas grandes empresas de ônibus da cidade de São Paulo que receberam quase R$ 1 bilhão de subsídio da prefeitura, do nosso dinheiro, por ligação com o crime organizado", continuou.

O deputado aproveitou o tema para criticar Ricardo Nunes (MDB) e disse que seu governo é fraco, o que, segundo ele, abriria margem para a criação de milícias na cidade, por exemplo.

"Às vezes, as pessoas olham para o Ricardo Nunes e falam que ele é meio inofensivo, não faz mal, não fede, não cheira, só que elas deixam de entender o seguinte: um governo fraco é o que abre espaço para os verdadeiros vilões tomarem conta. No Rio de Janeiro, foi quando a milícia foi tomando conta do botijão de gás, depois passou para extorquir comerciante, cobrar taxa de segurança de morador, e por aí vai", afirmou.

"O risco que a gente tá vivendo em São Paulo. [O crime organizado] já controla um transporte, já entraram nas obras, já montaram milícia dentro da GCM na Cracolândia. O risco que a gente tá correndo é muito grande, é isso que eu quis alertar também nessa carta", disse Boulos.

Responsabilidade da Arsesp no apagão

O candidato do PSOL voltou a dizer que a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), órgão subordinado ao governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), seria a principal responsável pela fiscalização dos contratos da Enel.

Segundo Boulos, a agência estadual tem culpa no apagão provocado por uma tempestade que atingiu cidades da Grande São Paulo no último dia 11.

"Fazer esse enfrentamento depende de conseguir fazer uma pressão política sobre Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] para que faça a caducidade [do contrato com a Enel]. Depois do apagão do ano passado, eles [Enel] não cumpriram 2%, 3% dos compromissos. Quem tinha que fiscalizar o compromisso? Era a Arsesp, que tem convênio com a Aneel, com todos os diretores indicados pelo Tarcísio. A Arsesp tem 24 funcionários para poder fiscalizar o setor elétrico do estado inteiro", afirmou.

Questionado sobre o corte de verba do governo federal em relação à Aneel, Boulos disse não ser favorável à redução de orçamento "para áreas estratégicas" e reforçou a responsabilidade da Arsesp na fiscalização da Enel, concessionária responsável pela distribuição de energia em diversas cidades na região metropolitana da capital.

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